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Nesta seção, trazemos alguns textos, reportagens e materiais pertinentes ao tema. 

Leia reportagem de Luís Fernando Assunção publicada no Jornal A Notícia/Joinville, em 02/07/03 e posteriormente editada em livro.

Inteligência e coragem a serviço da luta armada

João Batista Rita foi um dos 70 presos políticos trocados por embaixador suíço e depois banidos para o Chile

Catorze de janeiro de 1971. O Boeing da Varig aterrissa no Aeroporto de Pudahuel, em Santiago, Chile. Traz 70 presos políticos brasileiros trocados em uma negociação durante o seqüestro do embaixador suíço no Brasil, Giovani Enrico Bucher. O Chile vivia uma plena democracia com reformas comandadas pelo presidente Salvador Allende e era porto seguro de exilados das ditaduras da América Latina. Os presos, agora oficialmente exilados, foram recebidos com festa por 250 pessoas, entre brasileiros e chilenos, que cantavam o hino nacional do Chile. O rapaz franzino, de passos firmes, impressionou-se com a cena. “Nossa causa, enfim, tem um significado. Chega de guerras, chega de armas”, pensou. João Batista Rita, filho emprestado de Criciúma, militante do M3G, grupo armado de Porto Alegre, estava bem perto do que sonhara. Longe da pátria, é verdade, mas muito próximo da liberdade.

João Batista era miúdo, abaixo da estatura média para um rapaz de vinte e poucos anos, o que lhe rendeu a alcunha de Ritinha (diminutivo do sobrenome) entre os conhecidos. Nascido em Braço do Norte em 1948, com seis meses de idade mudou-se com a família para Criciúma. Logo cedo demonstrou ser decidido, firme e independente. Depois de concluir o ginásio, arrumou a mala e seguiu para Porto Alegre, onde conseguiu trabalho em um escritório de advocacia e conheceu muitas pessoas. Entre elas o jornalista Edmur Péricles de Camargo. Viraram amigos e Edmur convidou João Batista a ingressar na M3G, da qual era líder. A inspiração do grupo era Carlos Marighella, fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN) e assassinado em 1979 em uma emboscada comandada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, o maior “caçador de comunistas” da ditadura brasileira.

Em pouco tempo João Batista passou a ser um militante ativo. Decidiu morar em Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre, na casa de um tio. Inteligente e corajoso, tornou-se peça-chave nas ações da organização. A M3G defendia a luta armada e logo organizou um pequeno arsenal. As armas eram utilizadas em assaltos a bancos e seqüestros. “A tensão era muito grande. Companheiros do meu irmão eram presos e isso nos afligia”, recorda Aidê, que hoje vive nos Estados Unidos.

A irmã relembra com detalhes dos tempos difíceis da prisão de João Batista em uma ilha do Guaíba, em Porto Alegre, antes de ser banido para o Chile. “Durante a semana, sempre que aparecia uma lancha no meio do rio, era porque iam buscar alguém que seria torturado no Dops. Era horrível porque quando voltavam estavam desfigurados em função dos choques, agulhas debaixo das unhas e até testículos estourados”, conta. A angústia durou mais de um ano, quando o embaixador da Suíça foi seqüestrado e serviu de troca por presos políticos.

João Batista viajava muito pela organização, era o contato para formação de novos núcleos do movimento em cidades e Estados vizinhos. Chegou a recusar um pedido do amigo Edmur para abandonar a causa. “Não. Vou até o fim”, sentenciou. Em 10 de abril de 1970, foi pego e encaminhado para um presídio em Porto Alegre. Só saiu de lá para o Chile com mais 69 presos políticos, entre eles o amigo Edmur.

No Chile, continuou com suas atividades políticas até 1973, quando o general Augusto Pinochet chegou ao poder pelas armas, derrubando o então presidente Salvador Allende. João fugiu para a Argentina, onde casou com a exilada chilena Amelia Barrera, um mês antes de desaparecer, em dezembro de 1973. Amelia hoje vive com o marido alemão em Hamburgo, mas mantém contato com a família de João Batista.

Em 11 de dezembro de 1973, ainda na Argentina, João Batista foi detido, junto com o ex-major Joaquim Pires Cerveira, por um grupo de homens armados falando português e liderados por um homem que, mais tarde foi apurado, seria o delegado Sérgio Fleury, o mesmo matador de Marighella. Até hoje os familiares não sabem o que de fato aconteceu com João Batista. Desconfiam que ele tenha sido seqüestrado e trazido de volta ao Brasil, via Operação Condor, onde teria sido torturado e morto.

Como é comum nos movimentos clandestinos João Batista usou o codinome de PEREDA. Como se dizia na época era seu nome “frio”.

Lênin era o nome “frio” de Wladimir Ulianov. Depois da vitória da revolução ele continuou a ser chamado de Lênin pelos companheiros e o nome ficou.

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