Operação Barriga Verde perseguiu catarinenses na Ditadura Militar

Por Lucas Koehler
lucas.fkoehler@gmail.com

A década de 1970 em Santa Catarina pode ser lembrada como o período em que as cores da bandeira catarinense foram representadas de maneira direta e dolorosa. O verde esteve presente no nome da operação militar conhecido por “Barriga Verde”, e o vermelho no sangue dos torturados pelos ditadores, que por meio da violência faziam os presos políticos confessarem locais e planos para combater os anos de chumbo.

Iniciada nacionalmente em 1964, em Santa Catarina a Ditadura Militar teve suas ações diretas a partir de 1975. No mesmo ano do assassinato do jornalista Vladimir Herzog começava também a perseguição a pessoas envolvidas com partidos e grupos políticos de esquerda. Apesar de haver dois grupos, os “linhas duras” e “negociadores”, o objetivo era o mesmo: destruir o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Até hoje não se sabe ao certo qual das duas vertentes operaram em Santa Catarina. Porém, o fato é que não faltaram perseguições e torturas.

Exemplo disso é o que sofreu o professor Marcos Cardoso. Nascido em Tubarão (SC), morou no Bairro Floresta, em Joinville. Marcos foi professor no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) de Florianópolis e lá foi julgado e preso. O julgamento realizado na frente de seus alunos era uma amostra do que aconteceria com quem fizesse oposição ao autoritarismo militar. Nas escolas de Joinville, não havia nenhuma organização política dos alunos, apenas figuras – como a de Marcos Cardoso – que serviam de exemplos para resistir.

As empresas privadas locais também possuem um histórico de ligações aos anos de chumbo. Em relatos da Comissão Municipal da Verdade (CMV), a metalúrgica Tupy é a única empresa da região sul que é citada nacionalmente. O historiador e vice-presidente da CMV, Maikon Jean Duarte, explica que haviam pessoas ligadas ao PCB que trabalhavam no local e alertavam os outros trabalhadores sobre a Ditadura. “O operário Waldemar Domingos foi preso e torturados dentro da Tupy. Depois de preso ele voltou para a empresa e serviu de exemplos para os outros funcionários”, revela o historiador.

As perseguições também aconteciam dentro do próprio PCB. Os militares armavam esquemas de infiltrações para dentro das reuniões do partidos. Por isso, os militantes usavam códigos, o que dificultava as descobertas. Algumas famílias não sabiam do envolvimento de seus parentes na política clandestina. Dona Lúcia era uma das poucas pessoas que participava junto a outro companheiro familiar. Esposa de Edgar Schatzmann, ela foi uma pessoa importante para auxiliar outras mulheres presas.

Historicamente, Joinville tem aproximação com ditadores brasileiro. Se em 1940 o prefeito Arnaldo Moreira Douat recebeu Getúlio Vargas, nos período militar, o prefeito de Joinville Nilson Bender teve a visita de Costa e Silva, um dos cinco presidentes na ditadura. Outra figura conservadora que esteve em Joinville, foi o policial e delegado Sergio Fleury. Ele veio investigar o “Caso do Quartel”, no qual o Exército Militar de Joinville sofreu ataques. Atividades como bombas e coquetéis molotvs em mercados também foram registrados.

Nos anos pós-ditadura, boa parte se manteve no PCB até o fim da União Soviética, em 1991. Outros fundaram o Partido Popular Socialista (PPS) e alguns ainda comparecem em manifestações populares da cidade.

*A Revi agradece o historiador e vice-presidente da Comissão Municipal da Verdade Maikon Jean Duarte, pela contribuição com informações sobre o período militar em Santa Catarina. E também ao jornalista Fabricio Porto e Celso Martins pelas imagens disponibilizadas no site.